sexta-feira, 11 de abril de 2008

Uma visão pessoal sobre o Conhecimento

Este tema é um tanto complexo. Peço paciência e atenção, porque os ganhos com uma prática coerente são ilimitados.

Além de sua própria definição descrita na Wikipédia http://pt.wikipedia.org/wiki/Conhecimento, acredito que todo conhecimento humano de nada serve se ele for só ornamental. O conhecimento sempre é obtido através da observação e experimentação, logo sua natureza é invariavelmente prática e operacional. Logo no momento que o homem o adquire, está responsável a avaliá-lo e perpetuá-lo.

Sob o conhecimento quando exposto a percepção humana, vejo quatro problemas principais da consciência quanto a interpretação:
1. Os valores e pré-conceitos atuais. Exemplo: Conheci uma vez um homem que se dizia muito sábio, insistia veemente nisto, se denominava de alto QI (QI é "outra viagem" ao qual estará em outra postagem) e qualquer apresentação dele envolvia todos os seus títulos conquistados. Se pedissem pra ele escrever em um papel "Quem eu era quando criança", automaticamente ele escreveria quais os campeonatos de cuspe a distância ou masturbação que ganhou. Mas até ai tudo bem, mérito é mérito. A questão é que era impossível falar com ele sobre qualquer assunto sem o mesmo mensurar "o melhor do mundo" sobre tal assunto. Comentando sobre uma bola, por exemplo, "a melhor bola e feita por fulano", "o melhor espelho de telescópio é de sicrano", até "as fezes mais fedida do mundo foi de beltrano", parecia um audiobook do Guiness. Um dia comentei sobre algumas coisas que fazia e minhas conquistas sobre o assunto em pauta. Automaticamente ele falou que era impossível, porque se fazia tal coisa tão bem seria melhor que o fulano que "era o melhor do mundo", se eu fosse meu nome teria que estar nos principais veículos de informação. Nem se deu ao trabalho de expecular o meu método, já que eu não podia ser "o melhor do mundo". Com toda sua capacidade, não conseguia perceber que pessoas comuns fazem feitos grandiosos a todo o momento e nem por isto estão nas capas de jornais ou na televisão (quem sabe eu na capa da MAD fazendo par com o Alfred Neuman http://en.wikipedia.org/wiki/Alfred_E._Neuman, imagina!). Toda a capacidade desta pessoa vive filtrada a um único tema - Notabilidade. Inclusive a sua tendência a filtrar pela notabildade gera uma legião de pessoas que o ignoram, sendo muitas, muito interessantes e importantes para seus mitos pessoais. O conhecimento é fundamental, mas não há nenhum conhecimento no mundo mais importante que as relações humanas.
Neste exemplo, fica claro que pouco importa quão você é uma enciclopédia ambulante e qual seja seu potencial de capacidade de raciocínio e inferências, se ao fim filtrar tudo em um único prisma de percepção, uma única orientação de pensamento para qualquer assunto.
2. O “Xadrez intelectual”. Este que virou o padrão no meio empresarial e de comum a muitos indivíduos pobres de espírito que se acham melhores que os outros, até nas falácias de uma mesa de bar. Um método simples, mas com absurda sutileza e descaso, ao qual Schopenhauer descreve com maestria em seu livro “A Arte de ter razão” http://www.siciliano.com.br/livro.asp?orn=LCAT&Tipo=2&ID=433627 Consiste em um processo simples que todo mundo já sofreu alguma vez na vida. Em uma comunicação, o interlocutor utiliza todo seu conhecimento teórico para arrumar justificativas que pareçam plausíveis contra as suas opiniões, sendo muito comum a alteração sutil dos fatos e fontes. Neste processo, “quem leu a Barsa toda primeiro” vence a discussão, mas com certeza estará em desacordo com a verdade e principalmente com a ética. Ou seja, gasto de energia a toa, mas que tem muita gente tirando proveito disto, não sei como conseguem dormir a noite.
3. Foco Unilateral: Outro fator importante na aquisição do conhecimento é que o mesmo deve ser eclético, não somente pontual. Hoje em dia é comum ver pessoas focarem seus estudos somente aos que gerem retornos financeiros em curto prazo. Fazem dezenas de cursos acadêmicos e técnicos com foco somente ao que estão envolvidos em suas profissões. Quando “troca de cadeira” no trabalho, o foco o estudo novamente a direção do que tem que fazer nesta nova empreitada. Não há nada de mal nisto, pelo contrário. Mas tem pessoas que passam 30 anos de suas vidas somente fazendo isto. As outras 8 horas que está acordado fora do trabalho no qual existe um mundo cheio de maravilhas, este indivíduo desconhece profundamente. Ao ver uma flor, não sabe o nome dela nem em que época floresce. Ao olhar a noite, não consegue identificar uma estrela sequer. Pode parecer absurdo a estas pessoas tal reflexão, mas a cada conhecimento adquirido com seriedade sobre um tema, mais agradável e belo o mundo se torna. Todos já passamos por uma situação como esta. Um amigo lhe apresenta um tema qualquer, telescópios por exemplo. Até então, aquilo é só um tubo sem graça com um espelho dentro. No momento em que começa a pesquisar sobre este assunto, um mundo interessante se apresenta, quem e aonde inventou, o que faz, a complexidade de confecção do espelho que até então lhe parecia um espelho qualquer, quais sãos os mais potentes, etc. Um outro mundo relativo e muito mais interesante a este se apresenta a posteriori, o mundo da Astronomia, as estrelas, as galáxias, Kepler, etc e outros mundos de conhecimento vem desde em um moto-perpétuo. A partir deste ponto, o que era só um tubo com espelho dentro virou um universo cultural que trás grande prazer. Isto pode acontecer da mesma forma com uma flor, um tema como a ópera ou música clássica, teatro e por aí afora a uma ilimitada e extremamente prazeirosa jornada ao entendimento de tudo que lhe perto rodeia ou que está distante mas ao alcance de sua percepção.
4. Perpetuação: Vamos analisar este tópico com o exemplo da erudição. Imagine que logo a partir da alfabetização, um indivídio comece a ler livros. Ele não viver só "comendo livros", tem toda uma vida a viver. Então suponha que ele leia um livro por mês em toda sua vida, sendo está uma média razoável já que se fica doente, sai de férias, faz sexo, cuida dos filhos, trabalha e todas as outras atividades da vida cotidiana. Então em um cálculo rápido, se ele começou a ler os livros com 8 anos, aos 75 anos terá lido 804 livros. Sabendo que cada livro foi escrito na maioria das vezes por uma pessoa (vamos colocar a razão de 1,1 autores por livro) podemos dizer que este indivíduo leu a "interpretação pessoal" de de cada tema sob a ótica de 885 vidas humanas, o que é irrisório, sabendo que temos mais de 7 bilhões de pessoas habitando neste momento o planeta. Sem contar as tantas e tantas que outrora morreram, mas viveram suas vidas intensamente e pouco ou nada se sabe delas. É logico que o conhecimento não veio somente de "Uma Essência Manifestada Do Nada" (entenda que até a intuição depende da memória de algum conhecimento já adquirido) unicamente do autor, veio da observação (e com sorte a prática) dele sobre o conhecimento de outras pessoas, outros tempos, outras culturas, enfim, um vasto mar de informação. Porém, todo este conhecimento será passado pelo filtro do autor, logo a cada um dos autores, detem-se uma única interpretação dos fatos. A erudição, sendo um processo contínuo e limitado somente a nossa própria existência, pode ser tanto uma montanha que leva aos céus da plena consciência e sabedoria, como pode ser um abismo sem fundo de cultura inútil e viês de julgamento. As únicas coisas que vão fazer a divergência entre o céu e o abismo são a reflexão intensa sobre aonde se pode aplicar o conhecimento que se adquiriu e.... APLICÁ-LO INVARIAVELMENTE.

Imagine uma pessoa de detivesse todo o conhecimento humano. Como ela veria o mundo?
Seria mergulhado profundamente em uma felicidade avassaladora, pois conseguiria ter a sensibilidade da beleza existente em tudo que está sob sua percepção. Um grão de areia seria uma profusão de emoções. Seus problemas (tema de outra postagem) não existiriam, pois todos estariam resolvidos. Seria permeada com uma compaixão universal a toda a vida, se dedicando completamente ao equilíbrio terrestre. Veja como isto soa interessante, apesar de ser uma conclusão óbvia sob o ponto de vista racional, acho que já se ouviu isto como metáfora em algum outro lugar com outras palavras...

Assim, a interpretação do conhecimento adquirido deve ser encarada com toda energia e de modo pragmático. Uma das melhores formas de fazer isto é refletir sobre o conhecimento sob a ótica de outras vidas "o que um engenheiro acharia disto, o que uma cozinheira acharia, o que uma bactéria acharia, o que eu acharia disto se minha vida fosse diferente no momento que tive contato com este conhecimento".
O conhecimento cientifico é o que sofre menos influências de problemas de percepção, devido à sua natureza métrica e provacional, mas mesmo assim, ainda sofre. O ceticismo radical de um cientista pode filtrar um conhecimento inibindo a criatividade e a percepção multilateral mesmo de um conhecimento científico.

Qual é seu filtro? Já parou para pensar nisto? Os filtros são tão sutis a si mesmo, mas explícitos e claros como cristal aos olhos dos outros. O grande problema é que dificilmente as pessoas vão comentar dele com você. Lógico, como ele faz parte de sua personalidade, qualquer iniciativa de apresentação da verdadeira face pode ser automaticamente repudiada pelo seu ego como um ataque a sua personalidade, um ataque direto ao seu objeto de fé. A autovigia e humildade são primordiais neste caso (alias, em todos os casos).
Não disse que seria fácil, mas quanto mais fizermos isto, menos seremos expostos a inverdades. Ainda dá tempo de apertar ALT+F4 e esquecer tudo isto.

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