sexta-feira, 11 de abril de 2008

Os Mitos

Aviso: "Este brinquedo é proibido para portadores de preconceitos e/ou fanatismo. Se sentir falta de ar, taquicardia, ódio do autor, desconstrução de personalidade, cruze os braços em X e aperte ALT+F4. O brinquedo não pára imediatamente, demora alguns dias para se esquecer dele."

Atenção! Vai subir...

Todas as vidas no planeta estão fadadas a Lei Natural da Existência. Todas nascem, se desenvolvem (crescem), com sorte se reproduzem e morrem. Independente de como o mundo esteve, está ou estará, sempre as vidas existentes nele seguirão este percurso. Esta é a única verdade.
De forma mais abrangente, podemos dizer que o Universo todo está fadado a esta lei, todas as estrelas, galáxias e inclusive o próprio universo nasceu, está em desenvolvimento (será que se reproduz?) e sofrerá a morte térmica daqui uns 100 trilhões de anos. ( a não ser que a teoria do universo inflacionário esteja certa, mas não vamos nos atentar a este ponto agora). Como a vida é uma fração do modelo resultante de tudo que está contido no Universo, não seria diferente. Toda a vida com a morte térmica do Universo se extinguirá, a não ser que todas as vidas conscientes contidas no Universo arrumem uma solução para isto, mas nenhum de nós vai saber desta história.
Mas até então, alguém pode estar pensando: "Mas isto é óbvio, qualquer idiota sabe disto, que panaca é este? No próximo parágrafo ele vai falar que a Terra é azul!".

Sim é óbvio, mas reflita bem no fundo da sua alma sobre isto em todas as suas consequências sob os mais possíveis níveis de abstração que conseguir. Só existe isto de verdade absoluta e imutável na vida terrena (tirando a matemática, física, etc; mas não é este o caso pois elas não alteram a Lei da Existência).
Esqueça por um breve instante tudo que você viveu, todos os fatos, todas suas memórias, todas as alegrias e tristezas, feche seus olhos e concentre-se somente em sua respiração. No começo não é um processo fácil, mas se esforce. Se pensamentos passarem por sua mente, volte a focar na respiração. Insista. Quando conseguir, encontrará VOCÊ, singular e de consciência indivisível. Independente de quanto tempo se passe na vida, de todas as experiências e emoções, até segundos antes de sua morte se fechar os olhos e sentir sua respiração, somente este será você. Todo o resto são mitos criados por você.
Todos os valores e crenças que você tem hoje que são reflexos de suas experiências e as próximas experiências advindas das decisões que você tomará trarão novos mitos ou fortalecerão os mitos já existentes, mas estes não são nada mais que mitos.
Mas os mitos são uma mentira então? Não, muitos deles são necessários a nossa existência. Trabalhar é um mito, mas fique sem ele que você morre de fome. Fome é um mito? Aí você me pegou... (tem um povo que diz que vive de luz e tal...)
A questão é que sendo a lei natural "A LEI" e por uma questão de simplificar seguindo o caminho mais curto das coisas (o que a Natureza faz) você não precisaria de mitos. Existiram pessoas adeptas ao Cinismo, uma corrente filosófica onde de uma forma simples de explicar e voltada ao tema em questão, seus seguidores se abstiam de mitos para viver. Um deles seguidores foi Diogenes de Sinope (Se nunca ouvir falar dele, depois clique no link, mas por gentileza deixa-me acabar o assunto).
http://pt.wikipedia.org/wiki/Diógenes_de_Sínope

Verifique a veracidade disto fazendo um exercício simples: Quantas vezes tirando Diógenes de Sinope ao qual Alexandre o Grande era admirador, qual outro indivíduo que não tenha tido mitos foi estudado, ao menos comentado sobre seus pensamentos e emoções? Quando foi perpetuado pela História? A resposta é que sem mitos não existe a lembrança do homem. Diógenes de Sinope é lembrado até hoje, não por sua sabedoria, mas sim porque ele foi o arquétipo do homem sem mitos, o mito dos sem mitos. Em tese, pode um mendigo ser um adepto do Cinismo, uma pessoa sem mitos, que vive cada dia como mais um. Mas ultimamente eu acho que a maioria dos mendigos são mendigos pelo mito “não dar oportunidade” da grande maioria das pessoas.

Como cada mito carrega um padrão de padrões e deveres a serem regidos e cumpridos, logo o adepto do cinismo não tem mitos para se manterem sempre livres em essência. mas, acredito que a ausência completa de mitos inibe a evolução do homem como ser pensante.

De acordo com seus interesses pessoais e valores temporais em contínua construção e desconstrução durante a vida, nós criamos nossos mitos e somos levados a participar de comunidades que tem o mesmo interesse em determinado mito, o trabalho é um deles, a religião é outro, a paixão por carros, Internet, Blog, calcinhas vermelhas, pés, (já a paixão por mulheres não é mito, já que a lei natural diz que precisamos nos reproduzir, heheh), etc.
Supondo que um viciado em uma droga pesada estava a beira da morte quando entrou em uma igreja e com o apoio da comunidade e do que percebeu neste ambiente levou-o a deixar o vício. Imagine um outro caso de um homem que estava para se suicidar, com data marcada e ia para uma cidade isolada e dar fim aos documentos para não ser reconhecido, quando foi convidado para participar de um encontro em um momento filosófico e neste evento refletiu sobre sua vida, desistiu e se tornou um homem de negócios próspero. Dois casos reais. Neste momento, um mito virou um alicerce à sobrevivência. Quando temos um mito que é alicerce pessoal a sobrevivência, podemos nomear isto de objeto da fé.
Para um ateu isto pode ser um absurdo, porém se o ateu fosse viciado e não tivesse um objeto de fé para se alicerçar (fé na profissão, fé no casamento, fé em ver o filho crescer, fé no café - sei lá!), este teria morrido. Imagine o caso de um ateu que associou o objeto de fé ateísmo porque quase morreu quando estava enfartando e sua esposa devota ao invés de chamar uma ambulância começou a rezar (“graças a deus” entrou a vizinha que havia escutado o tombo e chamou a ambulância). Ou outro que se tornou ateu porque enquanto estava rezando em uma igreja quando o teto desabou e ele ficou gravemente ferido, o que o fez refletir sobre a veracidade de suas crenças.
Mas, para todos os casos acima, sob o aspecto prático da sobrevivência diante suas respectivas decisões, quais são as diferenças? A respostá é: Nenhuma. Todos eles tem objetos de fé, divergentes ou não, em consequência de uma avaliação individual para sua própria sobrevivência.
Como outro exemplo, existem também ateus que tem fé na "não fé", que consiste na fé em provar que o objeto da fé dos religiosos é algo sem sentido.***

O fanatismo é quando o mito, que se transformou em objeto de fé, se torna algo ao qual o individuo não consegue mais refletir, raciocinar e questionar suas possíveis faltas de sentido, as inverdades que existem em seu objeto de fé, pois todo mito tem uma parcela de inverdade, até mesmo os que se parecem atualmente mais céticos (Isto acontece porque o mito não pode só ser avaliado sob sua natureza (avaliação intrinseca) pois ele está subordinado a realidade de outros mitos que estão diretamente ou indiretamente associados a ele).
O fanatismo também pode ser ocasionado quando o objeto de fé é inflexível na sua origem, mesmo que o tempo presente mostre um problema ético ou se apresentem provas concretas de discrepância sobre suas definições (principalmente de ordem científica). Quando há o fanatismo, o individuo retorna a um ser não pensante, fadado somente as leis naturais. Neste caso, se o que sobra é só a lei natural da existência. Sendo assim, então pergunto: Para que o fanatismo existe?

Mas, ter um objeto de fé e não se tornar obcecado por ele não é uma tarefa fácil, porque como ele está diretamente envolvido com a sobrevivência, ele começa a permear a parte mais primitiva do cérebro, onde está o instinto de autopreservação. É muito capaz de você ser agredido pelo ex-viciado se comentar com ele que a "divindade que o salvou" possa não existir ou tentar apontar ao ateu que quase morreu a hipótese mesmo que remota que possa existir uma inteligência por trás de todo o Universo. Nestes casos, não se pode fazer isto, pois você seria comparado a um predador pelo instinto de autopreservação dele.
Ao final das contas, o que ele acredita como seu objeto de fé ou não vai ser comido pelos vermes de qualquer forma. O que vale é o que ele fez (ações, não o que pensou) de evolutivo e que legado ele deixou na vida, independente do mito que tinha. Como seres racionais, devemos manter nossa razão a todo custo, senão não haveria o porquê da consciência. Não é porque algo salvou sua vida hoje que ela tem que ser o "Monolíto da Verdade" a qualquer outro tipo de emergência. Deve sempre colocar a reflexão pessoal a frente. O conhecimento e o pragmatismo são os pilares que sustentam uma reflexão coerente.

Vemos assim, que os mitos são necessários a vida humana, independente de qual estranho possa hoje lhe parecer o mito. Por exemplo, o homem de Cro-Magnon http://pt.wikipedia.org/wiki/Cro-Magnon (já falei pra clicar depois!), evoluiu a partir de seus objetos de fé espirituais. Seus objetos de fé aumentaram seu senso de comunidade e responsabilidade com seus semelhantes, assim ficaram mais preparados contra todas as adversidades de seu cotidiano. E se não fosse isto, não estaríamos hoje, sendo ateus ou religiosos (e eu escrevendo baboseira e você nem lendo porque já desceu do brinquedo).
Acredito que o próximo objeto de fé a se predominar no futuro será a ciência. Quando digo predominar é que a ciência será o mito que fará o alicerce a sobrevivência, coisa que até agora não faz completamente, porque tem muita gente morrendo agora por falta dela. Onde a ciência não alcança, as pessoas fazem o que podem para sobreviver. Quem não tem cão...
Mas a ciência sozinha não pode ser o único “Imperador dos objetos de fé Mundial”. É sabido em toda história que toda monarquia de pensamento gera fanatismo. A tecnologia em mãos erradas tem alto poder de destruição a exemplo, o aquecimento global.

O grande fato é que, para continuarmos vivendo e não ficarmos loucos por causa de tal simplicidade que a L.N.E. tem em contraposto a tão complexas e férteis são as maravilhas de nossa imaginação, todos precisamos de mitos e nenhum deles é completamente isolado do outro, por mais adversos se apresentem.
A origem disto tudo veio a muito tempo, quando os macacos tiveram que descer das árvores encarando os predadores e ganharam consciência como o remédio evolucional para não serem extintos. A contra-indicação do"Remédio Consciência" foi a "Dependência da Substância Mythos-E3.1415169".
Desta forma, a voz do bom senso diz que todo mundo pode ter o mito, ou melhor, o objeto de fé que quiser, desde que esteja aberto a questionar, refletir e principalmente raciocinar incansavelmente sobre as verdades de seus mitos e não faça detrimento de outros para mantê-los. Uma vez fazendo detrimento de outro para mantermos nosso mito, retornamos a condição de ser não pensante e o mito anula-se por si.

*** Nunca imaginei que conseguiria incluir em uma única frase quatro palavras "fé"... vixi...

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